22.12.11

Senhorita Christina

O selo Tordesilhas da editora Alaúde de São Paulo, sob a inspirada liderança de Joaci Furtado, acabou de lançar a novela Senhorita Christina, do romeno Mircea Eliade, com tradução de Fernando Klabin e ilustrações do argentino Santiago Caruso.

Eis abaixo o texto de apresentação da obra, promovido pela editora:

Depois de tantos vampiros amansados, que até renunciam ao sangue humano, nada como oferecer terror de primeira qualidade ao público apreciador do gênero, permeado pela maldade que fez a carreira e a fama desses seres meio mortos, meio vivos.

Senhorita Christina é uma novela rigorosamente dentro dos padrões internacionais do vampirismo, com um detalhe: foi escrita por um dos maiores intelectuais do século XX, Mircea Eliade, mais conhecido como historiador das religiões, e no país de origem do conde Drácula – a Romênia. 

O ano é 1935. Ígor, jovem e belo artista plástico, e o professor Nazarie, arqueólogo, são hóspedes do imenso casarão sede de “Z.”, latifúndio decadente em Giurgiu, distrito na fronteira romena com a Bulgária. A senhora Moscu, dona da propriedade, vive com as filhas Sanda, uma jovem adulta, e Simina, de nove anos. À medida que os dias – e sobretudo as noites – passam, fenômenos cada vez mais estranhos se sucedem, a começar pelo comportamento da senhora Moscu – acometida de súbitas ausências, como que hipnotizada por alguém – e de Simina, cujo cruel cinismo é incompatível com uma criança. Sanda, por sua vez, parece prisioneira de um terrível segredo que não consegue ou não pode explicar a Ígor, por quem se apaixona. Aos poucos, os hóspedes percebem a ascendência de senhorita Christina, irmã da senhora Moscu morta aos vinte anos, durante uma revolta de camponeses que tomou a Romênia em 1907. Seu quarto permanece intocado, e o enigmático retrato da dama domina o aposento, impressionando Ígor. Simina diz conversar com a tia morta e ela mesma começa a aparecer em sonhos para o artista, a quem revela sua paixão. Sonho e realidade vão se mesclando, e Ígor já não sabe distinguir se delira com a presença de Christina em seu quarto, onde ela deixa a inconfundível fragrância de violeta, ou se está se envolvendo com a loucura de uma família doentia. Tudo se encaminha para o embate velado entre Christina, mistura de fantasma e vampiro, e Sanda, que disputam, em condições bastante desiguais, o amor do mesmo homem. Este, por sua vez, é acossado pela volúpia da morta-viva, em cenas de extrema sensualidade, enquanto se compromete com Sanda – já agonizante no leito, atacada por moscas espectrais que vão lhe sugando o sangue. O final é apoteótico, e não se revela aqui para se preservar o prazer da leitura.

Porque, de fato, a leitura de Senhorita Christina é prazerosa, sobretudo para os que apreciam o suspense e o terror. A atmosfera é lúgubre, mas sem aqueles exageros que hoje até soam cômicos: nada de dentes caninos protuberantes, castelos tenebrosos, morcegos ameaçadores ou urnas funerárias que servem de cama quando surge a aurora. A fatalidade impera, e todos os personagens são prisioneiros da presença diabólica de Christina até o desenlace da narrativa. E todos são psicologicamente densos, ao ponto de Simina, com sua perfídia protegida pela aparente fragilidade de criança, aterrorizar o leitor. Ao mesmo tempo, uma intensa sensualidade permeia o livro – acusado de “pornográfico”, quando publicado em 1936, o que valeu a Eliade uma suspensão temporária da universidade onde lecionava.

Em tradução direta do romeno, a luxuosa edição do Tordesilhas guarda outro presente: as belas ilustrações de Santiago Caruso, argentino que ilustrou A condessa sangrenta, de Alejandra Pizarnik, também publicado por este selo. O posfácio é do romeno Sorin Alexandrescu, sobrinho de Mircea Eliade e especialista na obra do tio.

28.7.11

Mais Noica no Brasil

Mais um momento de ápice nas relações culturais entre o Brasil e a Romênia: foi lançado este mês, em São Paulo, mais um volume da obra do filósofo romeno Constantin Noica. Trata-se do Diário Filosófico, de 1944, traduzido pela primeira vez para o português por Elpídio Mário Dantas Fonseca e publicado pela É Realizações.

30.5.11

Raul de Souza in concert la Iasi

Profitand de turneul european al cunoscutului muzician, Centrul Cultural Francez Iasi va avea placerea sa-l primeasca, pentru prima data in Romania, pe marele Raul de Souza, un nume de referinta pentru muzica de jazz interpretata la trombon. Concertul de jazz va avea loc pe 2 iunie 2011, orele 20.00, la Casa de Cultura a Studentilor Iasi.

In cursul celor 50 de ani de cariera internationala, Raul de Souza a dat concerte in compania trupelor si a starurilor Sonny Rollins, Sarah Vaughan, J.J. Johnson, Cannoball Adderley, Wayne Shorter, George Duke, Jack Dejhonette, Frank Rossolino etc. 

Raul de Souza a realizat 12 albume in nume propriu si a participat la numeroase inregistrari in Brazilia, tara sa de origine, in Statele Unite, unde a trait timp de 18 ani, si in Franta, unde locuieste acum. Este considerat de catre presa de specialitate internationala (Down Bwat, New York Magazine, Rolling Stone...) drept unul dintre cei mai mari artisti ai trombonului in lume.

23.2.11

Quem se lembra de Boulanger?

Ghita Bulencea, mais conhecido internacionalmente como Georges Boulanger, foi um dos mais célebres violinistas internacionais de música de café-concerto do período entre as duas guerras mundiais. Nasceu em 1893 na cidade romena de Tulcea, no seio de uma família cigana com longa tradição musical. 

Criança prodígio, Boulanger foi iniciado pelo pai na arte do violino e, aos 12 anos, recebeu uma bolsa para estudar no Conservatório de Bucareste. Três anos depois, foi levado para Dresden pelo célebre violinista húngaro de origem judaica Leopold Auer, com quem estudou durante dois anos.

Em 1910, Leopold Auer declarou ao jovem Boulanger, que então contava 17 anos, que ele já era um violinista maduro, presenteando-lhe com um violino que utilizará até o fim da vida. Por recomendação de Auer, o jovem romeno foi empregado como primeiro violinista num café de São Petersburgo freqüentado por aristocratas.

Em 1917, com a Revolução Bolchevique, Georges Boulanger deixou a Rússia e voltou para a Romênia, de onde partiu para Berlim em 1922, onde continuou tocando para os aristocratas russos que haviam se refugiado na capital alemã. A partir de 1926, a fama começou a visitá-lo, Boulanger passando a tocar em programas de rádio transmitidos para toda a Alemanha e a  se apresentar nos mais famosos cafés de Berlim e outras capitais européias. 

Boulanger viveu na Alemanha até 1948, quando se mudou para o Brasil e passou a tocar no Copacabana Palace do Rio de Janeiro, percorrendo o país inteiro com apresentações de imenso sucesso. Lá ele deve ter-se encontrado com o rei romeno Carol II, exilado no Copacabana Palace desde 1947. Boulanger mais tarde se mudou para a Argentina, onde veio a falecer em 1958.

Mais informações sobre o artista podem ser obtidas no site argentino dedicado a sua vida e obra.

Fonte: Wikipedia

2.2.11

Música de Crowl em Bucareste


A obra do compositor brasileiro Harry Crowl intitulada Na Perfurada Luz, em Plano Austero, quarteto de cordas no.1 (primeira parte acima, segunda parte abaixo), foi apresentada no dia 16 de dezembro de 2010 pelo Quarteto Florilegium, no Palácio Cantacuzino em Bucareste, durante o VI Festival MERIDIAN, da seção Romena da Sociedade Internacional de Música Contemporânea. 

20.1.11

Meu despertar na Romênia

13 de dezembro de 2010 foi há tão pouco tempo, mas para mim parece que já foi um marco há anos distante de agora. Foi nesse dia que saí de Fortaleza, Brasil, e parti para Bucareste, Romênia, sem saber que estava prestes a viver uma das experiências mais marcantes e singulares de minha vida.
 
Meu nome é Marcelo Moreira. Sou brasileiro nato, oriundo da pequena cidade cearense chamada Pentecoste. Lá vivi até os 18 anos de minha vida até ingressar no curso de letras da UFC. Sempre tive o sonho de viajar e conhecer o mundo, mas creio que a falta de planejamento e de coragem me prendeu no Brasil por muito tempo (que fique bem claro a minha paixão pelo meu país, apenas creio que viajar e se doar ao aprendizado do estranho, a sua cultura, ao seu habitual, é elemento essencial para o aprendizado de si próprio). Considero-me um tradutor, escritor, professor em constante aprendizado. Estudo atualmente em um curso de especialização em tradução na UFC. Sou membro de duas instituições bastante distintas: há cerca de 8 anos em um movimento social que visa a transformação social através da educação chamado PRECE; e em uma associação internacional de estudantes que visa o desenvolvimento de liderança estudantil chamada AIESEC. Resumidamente, foram as experiências que vivi nessas duas instituições que me fizeram a pessoa e o profissional de hoje. Foi também por causa dessas duas organizações que hoje estou em processo de transformação acelerado na Romênia.
 
Vim para a Romênia fazer um intercâmbio curto em uma ONG chamada Health Aid Romania. Essa instituição é simplesmente fantástica. Na década de 90, quando a Romênia ainda era comunista, muitas crianças abandonadas pelas mães, geralmente adolescentes, foram infectadas pelo vírus HIV nos hospitais daqui. Nessa época, era proibido falar de AIDS na Romênia. Isso mesmo, era PROIBIDO. As pessoas não sabiam o que era AIDS, e isso causava muito medo. Os médicos e enfermeiras não sabiam como tratar a doença e transmitiam o vírus para as crianças através de injeções infectadas e por transfusões de sangue. Eles achavam que poderiam pegar a doença pelo ar ou pelo toque, por isso sempre vestiam roupas especiais quando tinham de chegar perto das crianças, como aquelas que se veste quando se utilizam na apicultura. Por causa disso, muitas crianças morreram de doenças simples, como gripe. Certo dia, um grupo de profissionais de saúde da Health Aid UK vieram como voluntários para cá e ensinaram para as pessoas como se deve tratar pessoas com AIDS. Eles tocavam nas crianças, e isso assustou muito os médicos e enfermeiros daqui. Foi a partir desses profissionais que se começou a entender AIDS na Romênia. A ONG foi então criada e desde então HAR tenta integrar as crianças na sociedade. Mais do que tratamento correto, elas precisavam de afeto, afinal eram apenas crianças, sem família e infectadas com o vírus da AIDS por causa de um sistema de saúde público precário, senão repugnante. Por causa do contato com os falantes de língua inglesa, muitas das crianças falam inglês e, hoje, já são grandes e ajudam na ONG assim como foram ajudados. Atualmente a ONG cuida não somente das crianças infectadas naquele período, mas de quem precisa de ajuda. Eles são simplesmente incríveis. Estou muito feliz de estar aqui com eles, mas ao mesmo tempo preocupado, pois quero fazer um trabalho excepcional e ajudar da melhor forma possível.
 
Sempre me perguntaram por que eu escolhi a Romênia. Na verdade, ainda me perguntam por aqui. Tenho uma resposta pronta para isso que sempre utilizei: vontade de aprender a língua; os castelos e vilas medievais; inverno rigoroso; Leste europeu. Hoje paro para pensar sobre isso e não sei bem o porquê de ter vindo aqui. Eu nunca tive uma imagem distinta da Romênia, não sabia nada de língua nem de cultura. Hoje, depois de quase dois meses aqui, sinto algo tão fantástico que não sei como explicar. Não sei por que estou aqui porque sinto que há uma razão suprema inexplicável que me arrastou para cá. Tal razão me fez mudar paradigmas, preconceitos e medos que talvez demoraria anos para superar; ou até mesmo nem mudaria. Sou grato à AIESEC por isso, sou grato à HAR, sou grato à Romênia por me proporcionar tal felicidade e por me fazer enxergar coisas que há tanto tempo eu buscava enxergar.
 
Considero a Romênia minha segunda casa. Não preciso nem falar que sou muito feliz por ter escolhido este país para o meu primeiro intercâmbio. O fim do meu intercâmbio não significará o fim das amizades que fiz aqui, e sim o início de uma parceria que quero carregar por muitos e muitos anos. Volto para o Brasil no próximo dia 10 de fevereiro com a missão de fazer as pessoas enxergarem o que é a Romênia, com todos os seus problemas, mas também com todo o fantástico que carrega não somente em sua cultura, mas também em seu povo, que é geralmente hospitaleiro e deveras amigável.